terça-feira, março 29, 2011

Assim de repente!... O meu Avô!

É de facto, impressionante como o tempo passa!

Depois de anos sem uma palavra a mais neste Cantinho, eis que me deparo com uma necessidade enorme de escrever. Custumo dizer que escrevo quando estou triste!

Confirmo hoje que assim o é.


Escrevo sobre um senhor! Um marido, um pai, um avô. Escrevo sobre uma (agora) mulher. Escrevo sobre o João e a Catarina.

Escrevo sobre o meu avô, escrevo sobre mim.


O meu avô é uma pessoa doente. Bipolar. Desde sempre me lembro de lidar com isso, por isso não posso dizer que não me habituei a viver com alguém como ele. Era algo que alterava a vida familiar, pois tanto estava calmo, como se alterava e saía de casa para passear durante sabe-se lá quanto tempo. Com a velhice, apesar de notarmos as suas alterações, tornou-se mais fácil de lidar. No entanto, quando estava bem (felizmente era algo mais duradoiro que propriamente as suas alterações) era um avô daqueles!


Foi ele que me ensinou as primeiras letras, os números, ensinou-me a ver as horas, a atar os sapatos e com quem podia jogar horas a fio às cartas e que inventava jogos girissimos para uma garota de 6, 7 anos. Lembro-me de um em particular. Os dois à janela, na rua onde antes morava, no centro de Lisboa. O jogo era muito simples, consistia e cada um escolher um número e depois o primeiro carro que passasse contendo esse mesmo número na matricula era um ponto que contava. Passámos horas a jogar.


O meu avô era uma pessoa muito culta. Sabia tudo quanto era noticia, comentava com afinco e gostava muito de ouvir rádio. Lembro-me de nunca falhar a "Bola Branca". Isso e os seus fadinhos!


O meu avô trabalhou na Emissora Nacional. Junto de pessoas que ainda hoje marcam várias gerações. Tantos! Mas um em particular, que está na memória de todos nós pois faleceu à dias; Artur Agostinho. A minha primeira aproximação ao mundo da rádio foi por ele. Apesar de poucas memórias, até porque era pequenota, tenho flashes do lugar onde trabalhava, dos micros e da luz vermelha acesa, sinal de que não podia falar. Lembro-me de esperar por ele à porta de casa, pois não o deixava entrar sem receber a minha "portagem", um chocolate com embalagem azul e letras amarelas; "Táxi"! Ainda hoje lembro-me do sabor.


O meu avô é um senhor. Simpático, bem disposto, falador e com um grande coração. Orgulhoso da sua filha e dos seus netos. Com um casamento de mais de 50 anos, mas sempre com um sorriso para a minha avó.


O meu avô tem 88 anos. Ontem, foi embora. Para um lugar onde não o podemos visitar. Partiu. A minha avó sentiu-o. Esteve sempre do seu lado! Claro que está bem. Está com Ele e isso é algo que me deixa feliz.


O meu avô deixa saudades! Tantas! Tantas que me enchem os olhos de lágrimas, o coração apertadinho. Obrigado avô. Por tudo.


*tenho muitas saudades tuas avô. Um beijinho da tua neta mais velha, nunca vou esquecer todas as coisas que me ensinaste. Nunca me vou esquecer que foste tu quem mais sorriu quando soubeste o que queria "ser quando fosse grande". Estás no meu coração meu velhote!